Os mercados financeiros globais enfrentam um momento de intensa turbulência, marcado por instabilidade geopolítica, decisões imprevisíveis de líderes globais e sinais cada vez mais evidentes de fragilidade econômica. O epicentro desse abalo continua sendo a política comercial dos Estados Unidos, que, ao invés de oferecer clareza, segue alimentando a incerteza que paira sobre investidores e empresas ao redor do mundo.
Na quinta-feira, os índices acionários americanos despencaram: o S&P 500 caiu 3,46%, o Nasdaq 100 recuou 4,31% e o Dow Jones Industrial Average teve baixa de 2,50%. O dólar americano registrou sua pior queda diária em três anos, enquanto ações e títulos seguiram sob forte pressão vendedora. O euro, em contrapartida, atingiu sua máxima em três anos.
Os índices acionários asiáticos caminham para a terceira queda semanal consecutiva, à medida que o alívio inicial cede espaço à crescente preocupação após o anúncio da Casa Branca de que as tarifas dos EUA sobre importações chinesas subiram para 145%. Os títulos do Tesouro norte-americano mantiveram sua trajetória de queda ao longo da semana. Em um sinal claro de que os investidores estão buscando refúgio fora dos Estados Unidos, o euro subiu 1,6% e o franco suíço atingiu seu nível mais alto em uma década. O ouro também renovou sua máxima histórica.
Apenas um dia após os mercados financeiros reagirem positivamente à decisão do presidente Donald Trump de adiar por 90 dias parte das tarifas anteriormente anunciadas, a forte onda de vendas registrada na quinta-feira revelou o ceticismo generalizado quanto à eficácia das negociações propostas e os temores de uma nova escalada nas tensões com a China.
Fica cada vez mais evidente que as mudanças frequentes na estratégia tarifária de Trump minaram a confiança dos investidores tanto no governo quanto na economia dos EUA. Diante desse cenário, não surpreende que, após uma breve pausa, a pressão vendedora sobre ações, títulos e o dólar tenha retornado com força renovada.
Os investidores também deixaram de lado dados macroeconômicos positivos — como uma queda da inflação nos EUA acima do esperado — para se concentrar na crescente incerteza em torno da política comercial americana. Os mercados reagem menos às tarifas em si e mais à imprevisibilidade das decisões da administração, o que dificulta cada vez mais a projeção de lucros corporativos.
Além disso, os receios de uma intensificação da guerra comercial e o recente aumento das tarifas sobre a China ampliaram os temores de uma desaceleração do crescimento econômico global. Muitos analistas alertam que, sem um compromisso entre as partes, a economia mundial poderá enfrentar desafios significativos. A queda nos lucros corporativos inevitavelmente pesaria sobre os mercados acionários globais.
Diante desses riscos, os investidores buscaram segurança, migrando de ações para ativos considerados mais seguros, como ouro e títulos soberanos estrangeiros.
Moedas de mercados emergentes, como o won sul-coreano e o baht tailandês, se valorizaram frente ao dólar americano. O iene japonês também se fortaleceu, aproximando-se de 143 por dólar, seu nível mais alto desde outubro do ano passado.
A confiança dos mercados globais nos títulos do Tesouro dos EUA — por décadas considerados o mais confiável dos portos seguros — começa a rachar sob o peso das políticas comerciais imprevisíveis da Casa Branca. À medida que o presidente Donald Trump amplia seu ataque frontal ao comércio global, o que antes era certeza virou dúvida. Os investidores, antes confortáveis com a previsibilidade dos papéis do Tesouro, agora demonstram crescente cautela.
Mesmo um leilão robusto de títulos de 30 anos, que confirmou a persistência da demanda por dívida americana, não impediu a retomada da onda vendedora nesta semana. Na sexta-feira, os rendimentos dos títulos de 10 anos subiram seis pontos-base, acumulando um salto de 15 pontos-base em apenas dois dias — um movimento significativo para um ativo tido como referência de estabilidade.
Enquanto isso, no mercado de commodities, o petróleo amarga sua segunda semana consecutiva de perdas, em contraste com o ouro, que continua sua trajetória ascendente, símbolo clássico de fuga para a segurança em tempos de incerteza.
Nos mercados acionários, o S&P 500 tenta reagir. A recuperação técnica tem como ponto crucial a resistência de US$ 5.356. Um rompimento sustentado pode impulsionar o índice até os US$ 5.399 e, mais adiante, a US$ 5.443 — este último, um território que consolidaria o otimismo dos compradores. Contudo, a cautela permanece. Qualquer retorno do sentimento de aversão ao risco pode arrastar o índice de volta para os suportes em US$ 5.318, US$ 5.282 e, no pior cenário, até os US$ 5.226.